Como uma velha amiga já me dizia, “um bom exame de consciência não faz mal a ninguém”, mesmo sabendo que a minha personalidade insegura me faz ter um exame detalhado de consciência de cinco em cinco minutos. Sim, é um exagero, mas lhes garanto que existem exageros bem piores do que este, exageros estes que eu tento me afastar o máximo possível.
Enfim, hoje fazem 43 dias que estou de greve do meu trabalho, o INSS, e ao fazer um exame de consciência honesto destes tantos dias parados me vem a memória milhares de situações e casos que o meu trabalho já me fizeram passar: ouvir de amigos bem próximos que o meu local de trabalho é uma porcaria e que se desse na telha eles cagariam no meu guichê de atendimento; ouvir de pessoas que eu julgo serem queridas que ser servidor público não tem nada de dignificante; ouvir que ser funcionário público é uma tarefa pra pessoas acomodadas e preguiçosas; ouvir que fazer greve em um serviço público é um ato egoísta, que visa somente os interesses próprios e exclui a necessidade da população que precisa do serviço.
A lista destas situações é imensa, mas todos estes casos esbarram numa frase que resume todas estas opiniões: “Falta de conscientização”. As pessoas que não valorizam o servidor público não tem consciência de como este trabalho é importante para toda a população do nosso país, não tem consciência de que a falta de dignidade neste trabalho é um dos principais fatores que desmotivam e prejudicam o serviço, não tem consciência do árduo trabalho que é atender toda uma população carente de informação, e não tem consciência do quanto é importante e necessário fazer greve quando ela se faz necessária.
Por fim, é justamente por isso que eu faço e farei na minha vida quantas greves forem necessárias: para que se possa ter um serviço público digno e de qualidade pra toda a população; para que qualquer cidadão que se dispor a realizar este trabalho tenha orgulho do salário que ganha e do trabalho que realiza; para que o meu patrão, que neste caso é o governo e não vou entrar em questões partidárias pois elas não vem ao caso, não venha querer me exigir metas que não condizem com o meu salário e nem com o contigente de pessoas que trabalham comigo; para que qualquer trabalhador de serviço público ou privado possa e deva fazer greve quando necessário, porque no dia em que nem o servidor público puder mais reivindicar os seus direitos com greve, ai sim estaremos perdidos, nas mãos de pessoas que exploram o trabalho de outras pessoas, com o discurso barato de que elas geram trabalho aos explorados, semelhante à lógica do regime de escravidão.
Sem nenhuma sombra de dúvida, eu prefiro viver com o exagero de ter um exame de consciência de cinco em cinco minutos do que com o exagero de não ter conscientização daquilo que eu faço.
Andrews Nascimento
um dos Voluntários da Comunicação